Projeto
Mixar é um termo utilizado na música: significa misturar diferentes sons, muitas vezes de canções já existentes, para criar algo novo, um sonido singular mas com referências perceptíveis. Nesse projeto utilizamos tal ação para falar sobre a apropriação de imagens já existentes e a criação de novas leituras e visualidades através de interferências imagéticas ou textuais. O desejo é ressignificar imagens tidas como canônicas ou como únicas narrativas de uma história contada apenas pelos opressores. Artistas contemporâneos lançam mão da apropriação, citação e reutilização de imagens de tal forma que alguns teóricos já analisam imprescindível à compreensão das obras que os espectadores possuam um arcabouço de referências e informações do campo da História da Arte. Essa necessidade de um repertório de conhecimento é o que difere as obras produzidas contemporaneamente através dos recursos de apropriação daquelas produzidas na antiguidade através do mesmo método. Reler as imagens é necessário, principalmente a partir de artistes com corpos e vivências diferentes, que questionam não apenas as imagens mas as narrativas criadas e disseminadas por essas imagens. Ao nos basearmos apenas em obras de Rugendas ou Debret para contar a história de um início de Brasil invadido, calamos as vozes dos povos originários, não mostramos os outros discursos presentes no período. Ou mesmo nas fotografias de Alberto Henschel no século XIX, em que individuos negros não eram nomeados, eram entendidos apenas como representações anônimas de uma raça. O desejo de Mixagens Urbanas é mostrar novas narrativas imagéticas que os artistes selecionados criam e como elas permitem a reflexão sobre discursos impostos e reforçados através da iconografia clássica. Personagem central da criação dessa história, o centro do Rio de Janeiro foi o local escolhido para a instalação das obras, através de dois percursos distintos. Fugir do cubo branco e permitir o encontro entre passantes e os trabalhos artísticos fez com que desejássemos uma exposição no ambiente das ruas, utilizando uma linguagem comum à ela: o lambe. Ele faz parte da comunicação da cidade, espalhado pelos bairros, comunica desde eventos culturais até possibilidades de soluções para questões amorosas e financeiras. O lambe faz parte do imaginário da cidade e se confunde com os espaços, por isso o suporte para a exibição das obras não poderia ser diferente. Convidamos todes a visitarem os dois percursos propostos, Gamboa e Saúde e que o desejo de remixar e criar novas leituras de imagens proclamadas como espelho de uma história inventada seja compartilhado por mais pessoas.
Julia Baker