Artistas

A seleção dos cinco artistas participantes foi feita não apenas pelo uso do suporte lambe em seus trabalhos. Buscamos artistas que já possuíam relação com o entorno ou cujas obras traduziam problemáticas vividas no território selecionado. Foi no centro que a cidade começou a tomar forma. Porém é na criação desse espaço que vemos histórias serem apagadas e uma tentativa de higienização do espaço. Antes da grande reforma de Pereira Passos o passado da terra já era acobertado. O aterro do mar não apagou apenas a paisagem, mas escondeu a memória do território indígena e da socialização de afrodescendentes. Ao convocar artistas indígenas, negres e não-binários, queremos retomar as ruas e evidenciar suas marcas. Não apagar, mas relembrar.

ANDRÉ
VARGAS

André Vargas é artista visual, poeta, compositor e educador. Trabalha na retomada de sua ancestralidade como forma de entender as bases das culturas linguísticas, religiosas, históricas e estéticas da brasilidade em que se insere, tendo a cultura popular como a maior indicação desse fundamento. Os subúrbios, os interiores e os demais lugares de memória pessoal e coletiva que contornam essa ancestralidade se apresentam como ponto de partida empírico de suas postulações conceituais. Graduando em Filosofia pela UFRJ, Vargas questiona as hegemonias que indicam uma história única ao recontar e responder a sua própria história familiar, se valendo das forças religiosas que reconduzem à afrocentricidade de seus gestos. A voz, a evocação e a conversa, produzem dobras sobre os sentidos de seus trabalhos através da conjugação entre palavra e imagem. Nesse caminho, a constante presença da ausência, reafirma o infinito de possibilidades, onde qualquer possibilidade de certeza sobre sagrado e profano escapa pela graça.

Denilson Baniwa

Denilson Baniwa é amazônida de origem na nação Baniwa. Tem como base de trabalho a pesquisa sobre aparecimentos e desaparecimentos de indígenas na História Oficial do Brasil, ao mesmo tempo em que busca nas cosmologias indígenas e suas representações artísticas um possível método de compartilhar conhecimentos ancestrais e ao mesmo tempo criar um banco de dados com essas cosmologias como modo de salvaguardá-las.

Diambe

Diambe é uma pessoa negra e não-binária. Suas obras ampliam as noções comuns de coreografia e esculturas, desdobrando-se em trabalhos de instalação que buscam investigar relações implicadas de crioulização e movimento. Integram importantes coleções brasileiras como Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte de Anápolis e Memória Lage. Exposições coletivas recentes: “Ensaio para o Museu das Origens” no Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2023 (curadoria Paulo Miyada, Izabela Pucu e Ana Roman); “Video-muro” em galeria Isla Flotante, Buenos Aires, 2023 (curadoria Luiz Roque); “Afluente”, SP-Arte, São Paulo (Curadoria Catarina Duncan, Bernardo Mosqueira, Ana Clara Simões); “Dos Brasis” no SESC Belém (curadoria Marcelo Campos, Igor Simões, Lorraine Mendes); “Vitalidades” em Eco Lógicas Latinas, edição Art Consulting Tool, 2023 (curadoria Beatriz Lemos); “Histórias Brasileiras” no Museu de Arte de São Paulo, São Paulo, 2022 (curadoria Adriano Pedrosa, Sandra Benites, Clarissa Diniz, Lilia Schwarcz, Isabella Rjeille, Amanda Carneiro); “Carolina Maria de Jesus um Brasil para brasileiros” no Instituto Moreira Salles, 2021 (curadoria Hélio Menezes e Raquel Barreto); “Imagens que não se conformam” (curadoria Marcelo Campos e Joice Berth) e “Casa Carioca” (curadoria Marcelo Campos e Paulo Knauss) no Museu de Arte do Rio, 2020; “Esses seres vivemos” no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 2020 (edição Camilla Rocha Campos); “Engraved into the body” na Tanya Bonakdar Gallery New York, 2020 (curadoria Keyna Eleison e Victor Gorgulho); “Esqueleto” no Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2019 (curadoria de Analu Cunha, Marcelo Campos e Maurício Castro); “Estopim e segredo” na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro, 2019 (curadoria de Gleyce Kelly Heitor, Ulisses Carrilho e Clarissa Diniz).

Gê Viana

Graduanda em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão cria um trânsito entre o quintal de casa e as ruas. Suas práticas de colagem digital e manual com a inserção da pintura partem de pesquisas com imagens de arquivos e a memória oral de sua família, num confronto entre a cultura colonizadora hegemônica e seus sistemas de arte e comunicação. Gê pensa num modo de criar, com a história de seu povo Anapuru, o cotidiano Afro-diaspórico e Indígena do território maranhense para trazer outras narrativas, inventários que trabalhem possibilidades mais felizes e digna, pois, sente que a sua felicidade e de seus pares sempre esteve em risco. No ato de fotografar a vida, Gê assume retratos revelados pela técnica do Lambe-Lambe. Os suportes, na sua maioria, são materiais específicos para cada série. Gê os entende como um campo político. Para a artista, ao devolver seus trabalhos para rua faz um tipo de formação social, estético/pedagógico, pois se trata de uma pesquisa viva para florescer no acompanhamento pela identidade ancestral.

MARTINS
FORTUNATO

Martins Fortunato, morador da Zona Norte do Rio de Janeiro. Multiartista, trabalha com colagem digital e vídeo arte. Atualmente cursa Bacharelado em Cinema e Audiovisual na UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Sua pesquisa tem como objetivo reconstruir a narrativa partindo das margens pretas, centrando nas experiências de mulheres pretes no contexto da resistência da Diáspora africana. Esse processo de criação de imagens o proporciona ferramentas para desenvolver um estilo de narrativa baseado nas ideias do Afropolitanismo (Mbembe). Ao revisitar as imagens arquivadas, Martins reorganiza memórias passadas em outras perspectivas, que ajudam a reescrever novas hipóteses de histórias para as próximas gerações. Um dos ganhadores da comissão artística pela Art+Feminism Prêmio Internacional - Chamada para Ação 2021-2022 e está disponível no Wikimedia Commons. A obra intitulada “Todo o mar em mim / goblogbo oku ninu mi” em Yorubá traz referências a Yemanjá, a mãe do mar e das cabeças (orí). Participou na primavera de 2022 da GAK Gesellschaft für Aktuelle Kunst Bremen (Bremen / Alemanha), realizando programa de oficinas sobre coletividade e estética. Em 2022 participou de uma exposição na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – Rio de Janeiro, com a obra “Negritude Viva”.